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Mostrando postagens com o rótulo contos

Banco vazio

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“Banco vazio” é uma coletânea de textos breves que compõem a obra de estreia na literatura do senhor Welington Souza.  O autor baiano reúne pequenos textos ficcionais que se alternam entre os gêneros da crônica, e do conto breve, agrupados em capítulos sob os títulos de “vivências”, “lembranças”, “recomeço” e “devaneios”.  Na crônica de Souza encontramos acontecimentos e reflexões da vida ali do rés-do-chão, resgatados da memória de um protagonista/autor que repassa sua trajetória de vida desde a infância pobre no interior da Bahia, até o encontro com uma maturidade existencial que lhe permite (a ele e a nós leitores), estabelecer ou ressignificar a dimensão de coisas e pessoas com quem tivemos a sina de compartilhar nossas existências. Outros textos se inclinam para o gênero do conto - ainda que de modo embrionário -, com esboços de enredos, conflitos e desfechos sempre de teor instrutivo e reflexivo. São textos muito singelos, vertidos em uma linguagem simples e coloquial, q...

A poética da ausência

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A coletânea de contos De repente nenhum som , de Bruno Inácio, publicada pela Sabiá Livros, em 2024, traz o silêncio como protagonista das doze narrativas, apresentadas em pouco mais de cem páginas. O leitor não se engane: trata-se de uma obra densa, de múltiplos contornos, interpretações, em que a ausência de som é um elemento crucial para a caracterização das personagens e para a própria construção das tramas. As ficções carregam um lirismo profundo, que utiliza diversas ferramentas para ilustrar os fluxos de consciência, os discursos fragmentados, bem como diversos estilos de composição. O silêncio, nestes minicontos de Bruno Inácio, são uma forma de representação ortográfica, eles mostram não a falta de comunicação, mas uma maneira distinta de expressar experiências e compartilhar sentimentos. Por meio de situações corriqueiras, de interações humanas, o livro aborda assuntos como a família, a perda, a finitude, o amor e, acima de tudo, a busca por significados, por algo que justifi...

"A felicidade é um inferno" | Amor e solidão nos contos de Jussara de Queiroz

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Nos anos 1970, auge do conto no Brasil, o estado de Minas Gerais chegou a ser chamado de terra do conto. Com justiça. Autores já consagrados anteriores àquela época passaram a ser mais conhecidos e lidos, entre eles Murilo Rubião, Luiz Vilela e Sérgio Sant’Anna. Sem falar em mestres de anos anteriores, como Aníbal Machado e Guimarães Rosa. Na década de 1970, incontáveis ótimos contistas foram revelados em Minas. Hoje o conto não tem mais tanto espaço na mídia nem nas editoras. Uma pena. Mas o gênero segue em alta entre escritores do país inteiro.  Minas continua solar de excelentes contistas, de variadas gerações. Um exemplo expressivo e recente é Jussara de Queiroz (Patrocínio, 1953; vive em Belo Horizonte), autora de A felicidade é um inferno (Nauta, 2024), que traz contos primorosos no enredo, na linguagem e na estrutura. Ela não é escritora estreante. Em 1994, Jussara publicou o romance Voo Rasante (Editora O Lutador), Prêmio BDMG Cultural de Literatura de 1992. É autora vence...

Personagens em colapso

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Centenas de livros de ficção são publicados mensalmente pelas editoras brasileiras. Milhares, às vezes. Nosso país edita perto de doze mil novos títulos ao ano, uma quantidade que talvez não consigamos ler em uma vida. Quais livros são bons, quais livros valem nosso tempo, nossa atenção? Quem faz a garimpagem para o leitor, a classificação? Quem define o que vem a ser uma obra que valha a pena ser lida? Qual o destino dos poucos livros realmente bons, que correm o risco enorme de não serem descobertos? Os concursos literários premiam os melhores livros do ano ou as melhores obras de uma amostragem, segundo uma determinada comissão julgadora? São perguntas que me angustiam. Quem se arrisca a pescar algum autor desconhecido, na estante, e a encarar uma leitura incerta? Ou é preferível que o leitor se curve ao conforto dos cânones? Ainda bem que, se o crítico não for demasiadamente paranoico, pode abandonar uma obra lá pela décima página, caso não atenda aos critérios mínimos de qualidade...

A anti-terapia para um tempo distópico

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Alexandre Willer traz nas histórias de seu novo livro “Placebo para o dia-a-dia” (Ed. Folhas de Relva, SP, 2023) uma panóplia de situações, ocorrências, encontros & desencontros, nos quais seus personagens transitam em permanente desassossego, num embate nos becos-sem-saída de suas experiências existenciais. Como sinaliza o sugestivo e instigante título, não há cura ou escapatória para os passivos e dèbacles que contornam as vidas desses viventes que digladiam com suas realidades, sejam elas sociais, emocionais, afetivas ou psicológicas – toda tentativa de cicatrização, cura ou fuga redunda na frustração ou tiro no pé. Os desatinos, o desencanto, as dores & delícias  dialogam entre si nesses contos, a partir de um observatório sutil e exegético deflagrado pelo autor sobre os flagrantes do quotidiano e as contingências de uma contemporaneidade que tem experimentado tantas crises e dilemas nos últimos anos, como o fracasso diante da pandemia da covid-19 e a barbárie das guer...

"Gótico nordestino" – fantasmagoria sob o sol

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Cristhiano Aguiar (1981) é um escritor paraibano, autor de Na outra margem, o Leviatã (Lote42, 2018) e de Gótico Nordestino (Alfaguara, 2021), obra vencedora do Prêmio Biblioteca Nacional, em 2022. Participou da antologia Granta: os melhores jovens escritores brasileiros, em 2012. Tem textos traduzidos para o inglês e espanhol e publicados nos Estados Unidos, Inglaterra, Argentina e Equador. É um dos produtores do podcast afinidades eletivas . Gótico nordestino é composto por nove contos. É importante contextualizar o que este Gótico do título significa na obra de Aguiar. Em literatura, é um gênero dedicado ao sobrenatural, ao sombrio, está ligado ao mistério e ao terror. A obra que Cristhiano vem construindo está assentada nessas bases, algo pouco explorado na literatura brasileira. Ainda que conectados ao terror, os contos deste livro estão mais de acordo com a fantasmagoria, termo diretamente ligado à ilusão, aos sonhos, no espírito de Lewis Carrol. As narrativas são ambientadas...

Acontece nos Livros e Editora Sinete lançam chamada para antologia de contos

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O canal Acontece nos Livros e a Editora Sinete lançam chamada para antologia de contos. Acesse o edital no site www.editorasinete.com.br/editalcontos  e siga as instruções. É importante respeitar as regras do edital para não ser desclassificado. O prazo final para envio dos originais é 8 de outubro de 2023. Serão selecionados dez contos, de dez autores diferentes. Qualquer dúvida sobre o edital deve ser enviada por e-mail: editorasinete@gmail.com .

É possível ensinar alguém a escrever literatura?

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  Por Matheus Arcaro             Sempre que ministro uma nova oficina de escrita, faço-me essa pergunta. A questão não é ensinar qualquer texto, mas literatura. Arte, portanto.  A ideia de ensinar de que modo fazer uma redação para vestibular (com introdução, argumentos e conclusão) é perfeitamente cabível, já que se trata de técnica.             Mas, Matheus, não há técnica para escrever um conto, por exemplo? Sem dúvida! É nesse pedacinho de madeira que me apego para não afundar na hipocrisia.             O conto tem uma estrutura que pode ser explorada e praticada. Pode, inclusive, ser subvertida. É legítimo explicar e exercitar, por exemplo, os elementos da narrativa como narrador, enredo, personagem, espaço e tempo. Tudo bem, mas mesmo assim não me convenço. Falar de técnica em literatura soa como aproximar arte e razão instrument...

O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro – a ausência aclamada

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 Por Whisner Fraga Sérgio Sant’Anna (1941 - 2020) foi um escritor carioca, estreou na ficção com o livro O sobrevivente (Estória, 1969) e publicou obras seminais de nossa literatura, como Notas de Manfredo Rangel, Repórter (Civilização Brasileira, 1973), este O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (Ática, 1982), A senhora Simpson (Companhia das Letras, 1989), O monstro (Companhia das Letras, 1994), Um crime delicado (Companhia das Letras, 1997) e O homem-mulher (Companhia das Letras, 2014). Venceu 4 vezes o prêmio Jabuti e foi traduzido em mais de dez países.   Este O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro é uma obra composta por 13 contos, sendo que o mais conhecido, o mais estudado, é o de abertura, intitulado Cenários , uma narrativa pungente. Como sugere o título, o narrador propõe diversos cenários, que por si só já são histórias completas, para narrar a violência, a solidão, os temores, a difícil experiência do envelhecimento, a condição humana, me...

A orelha de Van Gogh e outras alegorias mundanas

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  Por Whisner Fraga Moacyr Scliar (1937-2011) foi um escritor gaúcho, autor de mais de setenta livros, entre romances, novelas, reuniões de contos, crônicas e ensaios. Entre os romances, é importante destacar O exército de um homem só (LP&M, 1973), Mês de cães danados (LP&M, 1977), A estranha nação de Rafael Mendes (LP&M, 1983), A mulher que escreveu a Bíblia (Companhia das Letras, 1999) e Manual da paixão solitária (Companhia das Letras, 2008). Dos volumes de contos, é preciso citar A balada do falso Messias (Ática, 1976), Histórias da terra trêmula (Escrita, 1976) e este A orelha de Van Gogh (Companhia das Letras, 1989), vencedor do Casa de Las Américas, do mesmo ano, certamente o prêmio literário mais importante da américa hispano portuguesa. Ganhou 8 vezes o Jabuti, principal honraria aos autores pátrios e foi membro da Academia Brasileira de Letras.   Scliar teve como tema principal de sua obra o judaísmo. Ele narrava seguindo o modelo das parábolas...

Antologia de contos | Edital

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  CLIQUE AQUI PARA FAZER DOWNLOAD DO EDITAL O canal Acontece nos Livros e a Editora Sinete tornam pública a chamada para antologia de contos. Buscamos receber originais somente em língua portuguesa, de autores residentes em território brasileiro. Dentre os originais recebidos, serão selecionados dez contos, de dez autores diferentes. A seleção de originais será feita por Whisner Fraga, responsável pelo canal Acontece nos Livros , e por Carla Dias, responsável pela Editora Sinete. A seleção se pautará por critérios de ineditismo, originalidade/inventividade, domínio da forma/gênero e adequação às considerações deste edital. Feita a seleção, os nomes dos autores cujos textos forem escolhidos serão divulgados pelo Acontece nos Livros e pela Editora Sinete . Após a divulgação, será produzida e publicada, em formato de livro físico, com ISBN e ficha catalográfica, uma antologia. Cada autor contemplado receberá 1 (um) exemplar, gratuitamente. Não há custos financeiros ou ...

Anos de chumbo - imitações de glórias

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  Por Whisner Fraga Francisco Buarque de Hollanda (1944) é um escritor e músico carioca. autor da novela Fazenda Modelo (Civilização Brasileira, 1974), dos romances Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite derramado (2009), O irmão alemão (2014) e Essa gente (2019), todos editados pela Companhia das Letras. Anos de Chumbo (Companhia das letras, 2021) é composto por oito contos, que versam sobre relações de poder assimétricas, baseadas no abuso e, algumas vezes, na violência. A força é o instrumento utilizado para subjugar, para controlar o outro, em diversas situações, locais e tempos. Os anos de chumbo, muito bem retratados na capa do livro e no projeto gráfico, não são apenas aqueles da ditadura, como inicialmente o leitor pode julgar, mas são ampliados, quase onipresentes. Recorrendo à ironia, ao cinismo, ao humor, as narrativas apresentam situações-limite, personagens sujeitos a interesses, a egoísmos, submetidos a diferentes disputas que, de tão en...