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Mostrando postagens de dezembro, 2024

"Da essencialidade da água"

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O tempo que decorre implacável, sobretudo para aqueles que já passaram de certa idade, e que se vêm diante de situações aflitivas que comprometem a saúde, tende a evocar a proximidade da ‘indesejada das gentes’, a morte. Em momentos tais, se nos dermos à meditações mais detidas e aprofundadas, lembramos dos entes que nos foram caros, daqueles que de alguma forma partilharam de nossas vidas. Surge então nas telas da memória a imensa legião dos que já não vivem entre nós. Vemos-os desfilar com as paixões que os consumiram, com seus ódios, suas amizades e carinhos, amores, desejos e ambições desvanecidas na poeira do tempo que passou. E nos perguntamos indignados: Por que tanta vida, pensamento, inteligência e sentimentos se tudo deve terminar no sepulcro? Em sua carreira, para onde vai, pois, o homem? Para o nada ou para uma luz desconhecida? A recente publicação pela novíssima Editora Sinete da obra “ Da essencialidade da água ” do escritor Milton Rezende tem o poder de despertar no lei...

"A cidade dos cachorros abandonados"

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  Um romance que começa com: “A escada de acesso estava bem iluminada quando parei à porta procurando pela chave. Descansei a bolsa tiracolo no aparador, tirei também o casaco e me virei para o escuro da casa. A serenidade da tarde não denunciava estranhezas, mas quando acendi a luz e me virei, o demônio já estava à minha espera. ‘Demorou’. Desperta a pergunta no leitor: que porra é essa mano?! Bem; ao menos foi o que pensei eu, já entrando no clima da obra. Nessa toada ou, nessa levada louca de demônio esperando um sujeito na sala de sua casa, que o leitor, cidadão pacato e cordial, é apresentado ao livro de estreia na literatura do professor e escritor paulista Fred Fogaça. Editado pela Editora Sinete, “ A cidade dos cachorros abandonados ” é o título da obra desenvolvida em cinco capítulos. É plasmada em monólogos envolvendo três personagens. Santiago, um jovem inexperiente de origens nortistas em busca de um sentido para a existência, seu fiel amigo Bartolomeu, com quem troca c...

Personagens em colapso

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Centenas de livros de ficção são publicados mensalmente pelas editoras brasileiras. Milhares, às vezes. Nosso país edita perto de doze mil novos títulos ao ano, uma quantidade que talvez não consigamos ler em uma vida. Quais livros são bons, quais livros valem nosso tempo, nossa atenção? Quem faz a garimpagem para o leitor, a classificação? Quem define o que vem a ser uma obra que valha a pena ser lida? Qual o destino dos poucos livros realmente bons, que correm o risco enorme de não serem descobertos? Os concursos literários premiam os melhores livros do ano ou as melhores obras de uma amostragem, segundo uma determinada comissão julgadora? São perguntas que me angustiam. Quem se arrisca a pescar algum autor desconhecido, na estante, e a encarar uma leitura incerta? Ou é preferível que o leitor se curve ao conforto dos cânones? Ainda bem que, se o crítico não for demasiadamente paranoico, pode abandonar uma obra lá pela décima página, caso não atenda aos critérios mínimos de qualidade...

Um rápido abraço da tradução em Rimbaud

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Aqui, trata-se de Arthur Rimbaud. No mês de outubro de 2024 completaram-se exatos 170 anos desde o nascimento desse vulto estelar (que assim o foi pelo menos durante certo período de sua curta vida – “partiu” do mundo com a idade de 37 anos!). Comecemos por visualizar, grosso modo, a vida ao mesmo tempo surpreendente e explosiva desse precoce jovem Rimbaud que, aos vinte anos, era já autor de trabalho poético lapidado à perfeição. Sua criação literária em verso e prosa é de tal modo vigorosa e auspiciosa que alguns críticos lhe atribuem todo o caudal sequente que desembocaria na então poesia de vanguarda. Rimbaud concebia sua obra como resultado, ao mesmo tempo, condicionado por, e condicionante de sua vida. Resultado a que ele pensava chegar pelo esforço da vontade, mas paralelamente pelo desregramento de todos os sentidos, dois aspectos aparentemente inconciliáveis que, assim concebidos, afloram um dilema. Tema para outro texto. A seguir, soneto de Arthur Rimbaud, em francês e com re...