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Mostrando postagens de 2023

"Gótico nordestino" – fantasmagoria sob o sol

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Cristhiano Aguiar (1981) é um escritor paraibano, autor de Na outra margem, o Leviatã (Lote42, 2018) e de Gótico Nordestino (Alfaguara, 2021), obra vencedora do Prêmio Biblioteca Nacional, em 2022. Participou da antologia Granta: os melhores jovens escritores brasileiros, em 2012. Tem textos traduzidos para o inglês e espanhol e publicados nos Estados Unidos, Inglaterra, Argentina e Equador. É um dos produtores do podcast afinidades eletivas . Gótico nordestino é composto por nove contos. É importante contextualizar o que este Gótico do título significa na obra de Aguiar. Em literatura, é um gênero dedicado ao sobrenatural, ao sombrio, está ligado ao mistério e ao terror. A obra que Cristhiano vem construindo está assentada nessas bases, algo pouco explorado na literatura brasileira. Ainda que conectados ao terror, os contos deste livro estão mais de acordo com a fantasmagoria, termo diretamente ligado à ilusão, aos sonhos, no espírito de Lewis Carrol. As narrativas são ambientadas

Solidão e redescoberta em “Bakken”, de Julia Barandier

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Antônio, protagonista de “Bakken” (7Letras), demonstra ser um personagem complexo já nas primeiras linhas do livro de estreia de Julia Barandier. Parece entender sua atual situação com clareza, mesmo que por vezes tente negá-la. Finge não ter saudades, para depois se desmentir. Esconde emoções, para mais tarde evidenciá-las – e quase sempre com uma dose de autoflagelo.  O personagem central do romance é um brasileiro de meia idade que acaba de se mudar para Copenhagen, na Dinamarca, com o objetivo de construir uma nova vida após um divórcio mal resolvido. Aborda seu dia a dia de pouco movimento em cartas dedicadas (embora jamais enviadas) à ex-esposa. Em cada uma delas, discorre – em tom poético e por vezes melancólico – sobre aspectos de sua nova realidade: a solidão, o clima, as paisagens e a língua.  Já nesse início da narrativa, a autora Julia Barandier mostra uma voz literária bastante definida, madura e fluída. Sua prosa poética transita entre diferentes gêneros literários com a

Traumas e afetos em “As sete mortes do meu pai”, de Humberto Conzo Junior

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Publicado no fim de 2022 pela Mondru, “As sete mortes do meu pai”, de Humberto Conzo Junior, é um romance de rara coragem e delicadeza. Na trama, o personagem-narrador recebe a notícia de que seu pai morreu e se vê assombrado por memórias contrastantes, que se alternam entre momentos de felicidade (estes mais raros) e situações traumáticas.  O cenário se torna ainda mais delicado para o protagonista quando Daysi, atual esposa de seu pai, afirma que ele não é filho biológico do homem que acaba de morrer. Embora não chegue a levar a afirmação tão a sério, a provocação impulsiona o mergulho a um passado marcado por desafetos, idas e vindas, discordâncias e, claro, amor.  Humberto Conzo Junior constrói o romance como uma autoficção, ao falar a respeito de sua própria família sem se preocupar em romantizar as relações. Também por isso, esse não é um livro convencional sobre o luto, a começar pelo personagem do pai, que claramente está bem distante daquela imagem de protetor, onipotente e se

Acontece nos Livros e Editora Sinete lançam chamada para antologia de contos

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O canal Acontece nos Livros e a Editora Sinete lançam chamada para antologia de contos. Acesse o edital no site www.editorasinete.com.br/editalcontos  e siga as instruções. É importante respeitar as regras do edital para não ser desclassificado. O prazo final para envio dos originais é 8 de outubro de 2023. Serão selecionados dez contos, de dez autores diferentes. Qualquer dúvida sobre o edital deve ser enviada por e-mail: editorasinete@gmail.com .

'Gerúndio a dois': os inusitados encontros entre escritores

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Por Bruno Inácio Recém-lançado pela Folhas de Relva, o livro Gerúndio a dois: Escritores brasileiros contemporâneos conversando com seus pares é uma das coletâneas de contos mais originais e instigantes dos últimos anos. Na obra, como o título já sugere, autores e autoras em evidência no atual cenário literário brasileiro imaginam encontros com escritores e escritoras que admiram.  Ao longo de pouco mais que 140 páginas, as narrativas transitam com naturalidade entre o cotidiano e o realismo mágico e entre o universo onírico e a intimidade coloquial, num ritmo preciso e contínuo.  Há, evidentemente, quem prefira os encontros nos sonhos, com conselhos e trocas de experiências, como fazem os autores Vagner Amaro (que dialoga com Machado de Assis) e Marcelo Maluf (que toca bateria com Fernando Sabino).  Porém, existem encontros bastante inusitados, como no conto em que Thais Lancman recebe ajuda de ninguém menos que Lygia Fagundes Telles para trocar o pneu do carro ou quando Márcia Camar

É possível ensinar alguém a escrever literatura?

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  Por Matheus Arcaro             Sempre que ministro uma nova oficina de escrita, faço-me essa pergunta. A questão não é ensinar qualquer texto, mas literatura. Arte, portanto.  A ideia de ensinar de que modo fazer uma redação para vestibular (com introdução, argumentos e conclusão) é perfeitamente cabível, já que se trata de técnica.             Mas, Matheus, não há técnica para escrever um conto, por exemplo? Sem dúvida! É nesse pedacinho de madeira que me apego para não afundar na hipocrisia.             O conto tem uma estrutura que pode ser explorada e praticada. Pode, inclusive, ser subvertida. É legítimo explicar e exercitar, por exemplo, os elementos da narrativa como narrador, enredo, personagem, espaço e tempo. Tudo bem, mas mesmo assim não me convenço. Falar de técnica em literatura soa como aproximar arte e razão instrumental, conceito de Max Horkheimer que elucida que a racionalidade contemporânea teria se transformado em mero cálculo.             Por outro lado, se

O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro – a ausência aclamada

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 Por Whisner Fraga Sérgio Sant’Anna (1941 - 2020) foi um escritor carioca, estreou na ficção com o livro O sobrevivente (Estória, 1969) e publicou obras seminais de nossa literatura, como Notas de Manfredo Rangel, Repórter (Civilização Brasileira, 1973), este O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (Ática, 1982), A senhora Simpson (Companhia das Letras, 1989), O monstro (Companhia das Letras, 1994), Um crime delicado (Companhia das Letras, 1997) e O homem-mulher (Companhia das Letras, 2014). Venceu 4 vezes o prêmio Jabuti e foi traduzido em mais de dez países.   Este O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro é uma obra composta por 13 contos, sendo que o mais conhecido, o mais estudado, é o de abertura, intitulado Cenários , uma narrativa pungente. Como sugere o título, o narrador propõe diversos cenários, que por si só já são histórias completas, para narrar a violência, a solidão, os temores, a difícil experiência do envelhecimento, a condição humana, mesmo. Não

Chamada aberta para publicação: antologia de minicontos

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   Não há qualquer tipo de cobrança para participar deste edital ou, caso seu conto seja selecionado, para a publicação do livro.        O canal  Acontece nos Livros  e a Editora Sinete tornam pública sua chamada para antologia de minicontos.   Buscamos receber originais somente em língua portuguesa, de autores residentes em território brasileiro.   Dentre os originais recebidos, serão selecionados quarenta minicontos, de vinte autores diferentes.   A seleção de originais será feita por Whisner Fraga, responsável pelo canal Acontece nos Livros, e por Carla Dias, responsável pela Editora Sinete, ambos editoras da Sinete.   A seleção se pautará por critérios de ineditismo, originalidade/inventividade, do-mínio da forma/gênero e adequação às considerações deste edital.    Feita a seleção, os nomes dos autores cujos textos foram escolhidos serão divul-gados pelo Acontece nos Livros e pela Editora Sinete. Após a divulgação, será produzida e publicada, em formato de livro físico, com ISBN e

A orelha de Van Gogh e outras alegorias mundanas

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  Por Whisner Fraga Moacyr Scliar (1937-2011) foi um escritor gaúcho, autor de mais de setenta livros, entre romances, novelas, reuniões de contos, crônicas e ensaios. Entre os romances, é importante destacar O exército de um homem só (LP&M, 1973), Mês de cães danados (LP&M, 1977), A estranha nação de Rafael Mendes (LP&M, 1983), A mulher que escreveu a Bíblia (Companhia das Letras, 1999) e Manual da paixão solitária (Companhia das Letras, 2008). Dos volumes de contos, é preciso citar A balada do falso Messias (Ática, 1976), Histórias da terra trêmula (Escrita, 1976) e este A orelha de Van Gogh (Companhia das Letras, 1989), vencedor do Casa de Las Américas, do mesmo ano, certamente o prêmio literário mais importante da américa hispano portuguesa. Ganhou 8 vezes o Jabuti, principal honraria aos autores pátrios e foi membro da Academia Brasileira de Letras.   Scliar teve como tema principal de sua obra o judaísmo. Ele narrava seguindo o modelo das parábolas, de mane

A vergonha - a identidade estruturada na linguagem

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  Por Whisner Fraga Acho desnecessário apresentar Annie Ernaux (1940) ao público brasileiro. Após o Nobel aconteceu uma avalanche de artigos sobre a obra dela, o que a tornou conhecida por aqui. Direto ao ponto, inicio esta breve jornada pela novela A vergonha (Fósforo, 2022) ressaltando dois pontos que para mim são fundamentais. Primeiro, a tradução de Marília Garcia . Publicado originalmente em 1997, pela Gallimard, a linguagem não traz grandes desafios a quem se arriscar a verter o texto para o português. Nesta edição de 2022 da Fósforo, que resenho aqui, encontrei alguns pequenos deslizes, que credito à falta de uma revisão mais acurada. Segundo, a classificação da obra. A ficha catalográfica da edição brasileira traz o termo “romance autobiográfico”. Para mim é um excelente rótulo. Por estas bandas isso é sinônimo de autoficção, o que traduz de forma razoável o projeto literário da escritora francesa. Annie Ernaux parte de uma experiência pessoal, expandindo-a para algo mai

Resultado da chamada de contos canal Acontece nos livro e Editora Sinete

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Seguindo o cronograma do edital, o canal Acontece nos livros e a Editora Sinete apresentam o resultado da chamada de contos. Agradecemos a participação dos quase cento e cinquenta contistas e a parceria da Editora Sinete.  Aos selecionados, entraremos em contato em breve com cada um, para definirmos os próximos passos da edição. Até a próxima chamada! www.acontecenoslivros.com.br www.cronicadodia.com.br www.editorasinete.com.br