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Mostrando postagens com o rótulo Krishnamurti Góes dos Anjos

Ermo e solidão

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Na abertura do romance Ermo e solidão da autoria de Renan Barros, o protagonista Leandro e o leitor, são lançados de chofre em um  consultório médico onde ficam sabendo que um enfisema pulmonar, ameaça a vida de Leandro. O médico adverte-o firmemente que a causa evidente está associada  a seu tabagismo. Eis o deflagrar de uma situação limite em uma existência já complicada em função de fatores como o desgaste vivido num casamento de mais de uma década, e a conturbada relação extraconjugal que ele mantém ocultamente com uma jovem bem mais nova do que ele. Tal conjuntura tem o poder de trazer à tona uma série de reflexões sobre os caminhos que ele trilhou em sua existência. Como deixou-se estar vegetando numa rotina monótona no trabalho como tradutor sem outras perspectivas profissionais? Como aquele grande amor pela esposa Marisa degenerou em relação de mera aparência, indiferença e falta de diálogo? Por quê não consegue estabelecer uma amizade íntima e amorosa com o filho Ber...

Banco vazio

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“Banco vazio” é uma coletânea de textos breves que compõem a obra de estreia na literatura do senhor Welington Souza.  O autor baiano reúne pequenos textos ficcionais que se alternam entre os gêneros da crônica, e do conto breve, agrupados em capítulos sob os títulos de “vivências”, “lembranças”, “recomeço” e “devaneios”.  Na crônica de Souza encontramos acontecimentos e reflexões da vida ali do rés-do-chão, resgatados da memória de um protagonista/autor que repassa sua trajetória de vida desde a infância pobre no interior da Bahia, até o encontro com uma maturidade existencial que lhe permite (a ele e a nós leitores), estabelecer ou ressignificar a dimensão de coisas e pessoas com quem tivemos a sina de compartilhar nossas existências. Outros textos se inclinam para o gênero do conto - ainda que de modo embrionário -, com esboços de enredos, conflitos e desfechos sempre de teor instrutivo e reflexivo. São textos muito singelos, vertidos em uma linguagem simples e coloquial, q...

Palavras para dias de chuva [& para outros dias também]

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Acaba de ser lançado pela novíssima Editora Sinete o livro de poesias “Palavras para dias de chuva”, da autoria do escritor, desenhista e compositor paulistano Rodrigo Scott. A obra em formato de bolso, 12 x 18cm é divida em cinco blocos temáticos, todos precedidos de breves epígrafes. Um livro de reduzida extensão é certo (88 páginas), mas que apresenta peculiaridades que a tornam maior pelas implicações decorrentes da leitura atenta dos poemas. A começar pelas belas ilustrações produzidas pelo autor e que, em boa medida, se entrelaçam às temáticas abordadas. Outro ponto que merece destaque é o próprio título do livro. “Palavras para dias de chuva”, que remete a certo sentimento de que tais dias são mais propensos à reflexão porque despertam saudade, nostalgia, e  proporcionam momentos de tranquilidade e reflexão. Entretanto, Rodrigo Scott vai mais além.    Em nota introdutória, o autor pontua que os poemas foram agrupados em temas que se relacionam. “Na parte 1, por exe...

Caixa de vazios

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A recente publicação de Caixa de vazios  - poesias, da autoria do escritor mineiro (de Uberaba), Vicente Humberto, pela editora Ficções, suscita uma curiosidade oriunda de ideias antagônicas: uma caixa cheia de vazios? Ou uma caixa vazia? Temos portanto já no título, o sentido conotativo (associação subjetiva), além do sentido literal que se poderia esperar. Mas não é isso mesmo que a literatura opera com a linguagem?  Esta que é talvez, a nossa mais cara invenção? Indispensável e bela, a linguagem, entretanto, nunca é estática e absoluta, sempre fluida, sempre múltipla e viva como pássaros em voo. Assim, curiosos, retiramos a tampa dessa caixa de Vicente Humberto pensando de antemão que encontraremos a linguagem revelação de mundos, recriação de mundos. Três compartimentos ou seções dividem a obra:  “Uma árvore quase pronta”, “Fazenda Harmonia” e “Sombra feliz”, a reunir ao todo, 96 poemas. O autor que também é engenheiro de formação constrói uma obra marcada pela simpli...

Você tem fome de quê?

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A ampla capacidade de transformação do gênero a que damos o nome de conto em literatura, tem gerado em nossa era marcada pelo esfacelamento, pela fragmentação, pela velocidade e intensidade, obras de excepcional qualidade, e que dia a dia se aprimoram na técnica da microficção. Tais obras se caracterizam basicamente por se constituírem em narrativas breves ou brevíssimas. Exiguidade estrutural. A ideia é que, com um mínimo de palavras, seja apresentado todo um contexto e uma ação em torno do pouco que é revelado, e em assim sendo, mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de "preencher" as elipses narrativas (omissão intencional de códigos e/ou informações facilmente identificáveis pelo contexto), e entender a história por trás da história escrita. Concisão, narratividade, subtextos e ausência de descrição. Retratos de "pedaços da vida" se poderia afirmar. O escritor Júlio Cortázar definiu bem um recorte que os contistas podem e devem realiz...

"Da essencialidade da água"

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O tempo que decorre implacável, sobretudo para aqueles que já passaram de certa idade, e que se vêm diante de situações aflitivas que comprometem a saúde, tende a evocar a proximidade da ‘indesejada das gentes’, a morte. Em momentos tais, se nos dermos à meditações mais detidas e aprofundadas, lembramos dos entes que nos foram caros, daqueles que de alguma forma partilharam de nossas vidas. Surge então nas telas da memória a imensa legião dos que já não vivem entre nós. Vemos-os desfilar com as paixões que os consumiram, com seus ódios, suas amizades e carinhos, amores, desejos e ambições desvanecidas na poeira do tempo que passou. E nos perguntamos indignados: Por que tanta vida, pensamento, inteligência e sentimentos se tudo deve terminar no sepulcro? Em sua carreira, para onde vai, pois, o homem? Para o nada ou para uma luz desconhecida? A recente publicação pela novíssima Editora Sinete da obra “ Da essencialidade da água ” do escritor Milton Rezende tem o poder de despertar no lei...

"A cidade dos cachorros abandonados"

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  Um romance que começa com: “A escada de acesso estava bem iluminada quando parei à porta procurando pela chave. Descansei a bolsa tiracolo no aparador, tirei também o casaco e me virei para o escuro da casa. A serenidade da tarde não denunciava estranhezas, mas quando acendi a luz e me virei, o demônio já estava à minha espera. ‘Demorou’. Desperta a pergunta no leitor: que porra é essa mano?! Bem; ao menos foi o que pensei eu, já entrando no clima da obra. Nessa toada ou, nessa levada louca de demônio esperando um sujeito na sala de sua casa, que o leitor, cidadão pacato e cordial, é apresentado ao livro de estreia na literatura do professor e escritor paulista Fred Fogaça. Editado pela Editora Sinete, “ A cidade dos cachorros abandonados ” é o título da obra desenvolvida em cinco capítulos. É plasmada em monólogos envolvendo três personagens. Santiago, um jovem inexperiente de origens nortistas em busca de um sentido para a existência, seu fiel amigo Bartolomeu, com quem troca c...