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Mostrando postagens de julho, 2023

'Gerúndio a dois': os inusitados encontros entre escritores

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Por Bruno Inácio Recém-lançado pela Folhas de Relva, o livro Gerúndio a dois: Escritores brasileiros contemporâneos conversando com seus pares é uma das coletâneas de contos mais originais e instigantes dos últimos anos. Na obra, como o título já sugere, autores e autoras em evidência no atual cenário literário brasileiro imaginam encontros com escritores e escritoras que admiram.  Ao longo de pouco mais que 140 páginas, as narrativas transitam com naturalidade entre o cotidiano e o realismo mágico e entre o universo onírico e a intimidade coloquial, num ritmo preciso e contínuo.  Há, evidentemente, quem prefira os encontros nos sonhos, com conselhos e trocas de experiências, como fazem os autores Vagner Amaro (que dialoga com Machado de Assis) e Marcelo Maluf (que toca bateria com Fernando Sabino).  Porém, existem encontros bastante inusitados, como no conto em que Thais Lancman recebe ajuda de ninguém menos que Lygia Fagundes Telles para trocar o pneu do carro ou quando Márcia Camar

É possível ensinar alguém a escrever literatura?

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  Por Matheus Arcaro             Sempre que ministro uma nova oficina de escrita, faço-me essa pergunta. A questão não é ensinar qualquer texto, mas literatura. Arte, portanto.  A ideia de ensinar de que modo fazer uma redação para vestibular (com introdução, argumentos e conclusão) é perfeitamente cabível, já que se trata de técnica.             Mas, Matheus, não há técnica para escrever um conto, por exemplo? Sem dúvida! É nesse pedacinho de madeira que me apego para não afundar na hipocrisia.             O conto tem uma estrutura que pode ser explorada e praticada. Pode, inclusive, ser subvertida. É legítimo explicar e exercitar, por exemplo, os elementos da narrativa como narrador, enredo, personagem, espaço e tempo. Tudo bem, mas mesmo assim não me convenço. Falar de técnica em literatura soa como aproximar arte e razão instrumental, conceito de Max Horkheimer que elucida que a racionalidade contemporânea teria se transformado em mero cálculo.             Por outro lado, se

O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro – a ausência aclamada

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 Por Whisner Fraga Sérgio Sant’Anna (1941 - 2020) foi um escritor carioca, estreou na ficção com o livro O sobrevivente (Estória, 1969) e publicou obras seminais de nossa literatura, como Notas de Manfredo Rangel, Repórter (Civilização Brasileira, 1973), este O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (Ática, 1982), A senhora Simpson (Companhia das Letras, 1989), O monstro (Companhia das Letras, 1994), Um crime delicado (Companhia das Letras, 1997) e O homem-mulher (Companhia das Letras, 2014). Venceu 4 vezes o prêmio Jabuti e foi traduzido em mais de dez países.   Este O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro é uma obra composta por 13 contos, sendo que o mais conhecido, o mais estudado, é o de abertura, intitulado Cenários , uma narrativa pungente. Como sugere o título, o narrador propõe diversos cenários, que por si só já são histórias completas, para narrar a violência, a solidão, os temores, a difícil experiência do envelhecimento, a condição humana, mesmo. Não