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Mostrando postagens de 2025

A poética da ausência

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A coletânea de contos De repente nenhum som , de Bruno Inácio, publicada pela Sabiá Livros, em 2024, traz o silêncio como protagonista das doze narrativas, apresentadas em pouco mais de cem páginas. O leitor não se engane: trata-se de uma obra densa, de múltiplos contornos, interpretações, em que a ausência de som é um elemento crucial para a caracterização das personagens e para a própria construção das tramas. As ficções carregam um lirismo profundo, que utiliza diversas ferramentas para ilustrar os fluxos de consciência, os discursos fragmentados, bem como diversos estilos de composição. O silêncio, nestes minicontos de Bruno Inácio, são uma forma de representação ortográfica, eles mostram não a falta de comunicação, mas uma maneira distinta de expressar experiências e compartilhar sentimentos. Por meio de situações corriqueiras, de interações humanas, o livro aborda assuntos como a família, a perda, a finitude, o amor e, acima de tudo, a busca por significados, por algo que justifi...

“Prisão, flores e luar”: mergulho em busca do eu

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A personagem-narradora do romance de Carla Dias desfia uma série de inquietações, nunca contradições pessoais mesquinhas, mas profundas, angustiosas – e que libertam Poesia se faz apenas com palavras? A uma consulta de um poeta de 24 anos, no “Correio” do semanário Zycie Literackie (Vida Literária), a polonesa Prêmio Nobel Wislawa Szymborsksa (1923-2012) respondeu assim: “Não tente ser poético a qualquer preço: a poeticidade é chata, porque é sempre secundária. A poesia, como, aliás, toda a literatura, retira suas forças vitais do mundo em que vivemos, das vivências realmente vividas, das experiências realmente sofridas e dos pensamentos que nós mesmos pensamos. É preciso descrever o mundo continuamente, porque, afinal, ele não é o mesmo de tempos atrás”. [ Correio literário ou como se tornar (ou não) um escritor , tradução de Eneida Favre, Belo Horizonte, Editora Âyiné, 2024, p. 37]. No recente Prisão, flores e luar (Sinete, 2024), Carla Dias [Santo André, 1970; vive em São Paulo] ...

A marcha sensorial rumo à liberdade

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Amores terás vivido , o mais recente romance de Wilson Loria, publicado pela Editora Patuá, em 2024, narra a história de Nelson, um jovem que deixa Cuba e se muda para os Estados Unidos, no início da revolução cubana. O leitor acompanha a jornada do protagonista, desde a fuga até as experiências no novo país, explorando temas como liberdade, paixão e busca pela identidade. A opressão política e social, o desconforto com as mudanças na ilha, o medo da repressão e, principalmente, um profundo desejo por liberdade sexual, são fatores que impulsionam essa partida. A família de Nelson desempenha papel fundamental em toda a obra. O pai é o responsável pela compra das passagens, a mãe o suporte emocional, o amor incondicional, os irmãos como símbolos da relação entre passado e presente. A lembrança dos entes queridos, que permanece em Cuba, é muito presente no romance, e simbolizada por cartas recebidas, que dão, ao leitor, um panorama do contexto cubano da época.  Os Estados Unidos, país...

"A felicidade é um inferno" | Amor e solidão nos contos de Jussara de Queiroz

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Nos anos 1970, auge do conto no Brasil, o estado de Minas Gerais chegou a ser chamado de terra do conto. Com justiça. Autores já consagrados anteriores àquela época passaram a ser mais conhecidos e lidos, entre eles Murilo Rubião, Luiz Vilela e Sérgio Sant’Anna. Sem falar em mestres de anos anteriores, como Aníbal Machado e Guimarães Rosa. Na década de 1970, incontáveis ótimos contistas foram revelados em Minas. Hoje o conto não tem mais tanto espaço na mídia nem nas editoras. Uma pena. Mas o gênero segue em alta entre escritores do país inteiro.  Minas continua solar de excelentes contistas, de variadas gerações. Um exemplo expressivo e recente é Jussara de Queiroz (Patrocínio, 1953; vive em Belo Horizonte), autora de A felicidade é um inferno (Nauta, 2024), que traz contos primorosos no enredo, na linguagem e na estrutura. Ela não é escritora estreante. Em 1994, Jussara publicou o romance Voo Rasante (Editora O Lutador), Prêmio BDMG Cultural de Literatura de 1992. É autora vence...

Você tem fome de quê?

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A ampla capacidade de transformação do gênero a que damos o nome de conto em literatura, tem gerado em nossa era marcada pelo esfacelamento, pela fragmentação, pela velocidade e intensidade, obras de excepcional qualidade, e que dia a dia se aprimoram na técnica da microficção. Tais obras se caracterizam basicamente por se constituírem em narrativas breves ou brevíssimas. Exiguidade estrutural. A ideia é que, com um mínimo de palavras, seja apresentado todo um contexto e uma ação em torno do pouco que é revelado, e em assim sendo, mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de "preencher" as elipses narrativas (omissão intencional de códigos e/ou informações facilmente identificáveis pelo contexto), e entender a história por trás da história escrita. Concisão, narratividade, subtextos e ausência de descrição. Retratos de "pedaços da vida" se poderia afirmar. O escritor Júlio Cortázar definiu bem um recorte que os contistas podem e devem realiz...