Desvendando os concursos literários
Concursos literários são oportunidades que os escritores devem aproveitar
Participar de concursos literários é uma das formas de um escritor ver suas obras publicadas ou celebradas. A premiação vai da publicação da obra a valores em dinheiro, recompensas que desempenham o papel de reconhecimento do valor literário da obra.
Eles são importantes e podem ajudar a impulsionar a carreira de um escritor estreante ou com livros publicados. Por isso mesmo, ao decidir inscrever alguma das suas obras em um concurso literário, é melhor ficar atento a alguns detalhes para não desperdiçar a oportunidade.
Se você é um escritor em busca da primeira publicação ou de uma oportunidade para se fortalecer no cenário literário, talvez este artigo o ajude a compreender alguns detalhes que podem fazer diferença na sua inscrição.
Atenção ao edital
Antes de pensarmos nas especificidades, é preciso que você compreenda que não há como fugir do óbvio que muitos escolhem evitar: leia o edital com muita atenção.
Atender às condições estabelecidas no edital é fundamental para aumentar as suas chances de se qualificar e até ganhar um concurso literário. Nele se encontra um mapa de preparação da apresentação do seu projeto, informações relevantes sobre o tipo de obra que será premiada.
Atender aos critérios é indispensável
Vamos pegar como exemplo um dos mais importantes editais culturais do estado de São Paulo, o ProAC – Programa de Ação Cultural.
Este edital traz parâmetros bem definidos sobre como o projeto do escritor deve ser apresentado. Um deles se refere aos critérios e notas para a avaliação do projeto. São 5 tópicos que apontam para o conteúdo da obra e determinadas etapas da realização do projeto.
Por exemplo, um deles avalia a qualidade e a relevância artística e cultural da obra, o que, de certa forma, é um pouco abstrato. No entanto, trata-se também de uma pista importante: seu livro tem de ter relevância cultural, ou seja, ele também precisa ter uma função social, seja pela formação de leitores ou temática que aborde questões de interesse da sociedade. Isso significa que a obra deve trazer algum tipo de benefício para a sociedade. Não basta ser artística, mas sim uma obra artística um pouco mais engajada. Este item se refere ao tema, estilo, a forma como o tema é abordado e assim por diante. Sua obra deve apresentar uma relevância e você precisará deixar essa informação clara no seu projeto.
Outro critério é o potencial de impacto cultural e na formação de público. Inscrever um romance de formação, que tende a ser uma obra para jovens leitores, pode ser muito interessante. Essa obra passa a ter uma pontuação melhor, por causa do potencial maior para formação de público leitor. Há também a qualificação, que inclui a apresentação da história do escritor: biografia, publicações, outras premiações, enfim, o currículo.
Orçamento que exige criatividade
A compatibilidade orçamentária, viabilidade e adequação do cronograma é um critério que pede especial atenção. O ProAC oferece uma quantia em dinheiro que deve ser usada exclusivamente para atender às etapas de finalização, projeto gráfico e publicação da obra em formato impresso e/ou digital. A planilha orçamentária deve apresentar todas as especificações do trabalho que será feito e o custo de cada item. Essa planilha determinará como o escritor gastará a quantia oferecida como prêmio, cobrindo custos de preparação, impressão, ações de divulgação de lançamento da obra.
Em 2021, o edital do ProAC para literatura de ficção previa R$ 50.000,00 por projeto, valor que deve ser utilizado na sua totalidade. O conhecimento do escritor ganhador do prêmio a respeito do meio literário conduzirá as ações descritas na planilha orçamentária. Ele deverá distribuir esse valor sabiamente, fazendo com que a contabilidade trabalhe em benefício da criatividade, ou seja, da sua obra literária.
Ele também terá de estar bem informado sobre as etapas que vão além do fazer literário: quantos exemplares serão impressos, tipos de papéis para capa e miolo, custo de revisão ortográfica e gramatical e assim por diante. É neste item que entra a compatibilidade orçamentária com a execução do projeto, seguido pelo último item dos critérios: capacidade de realização e histórico de realizações do proponente. Aqui, as informações devem ser sobre a competência do proponente, ou seja, do escritor, ao realizar o proposto em seu projeto, endossado pela experiência nesse tipo de produção, citada em seu histórico, o que colabora para que o escritor tenha uma pontuação mais alta.
Cada critério conta com uma pontuação que vai de 0 a 10 pontos.
A obra inédita
Se você observar os concursos Prêmio SESC, Manaus, Cepe, Minas Gerais, Leya, de Portugal, por exemplo, em seus editais são apresentados o que será avaliado na obra que foi inscrita. Assim, se você tem uma obra inédita, dê valor a ela. Havendo algum tipo de insegurança quanto a sua qualidade, contrate um profissional para ajudá-lo. Geralmente, a obra perde muitos pontos por conta de graves erros de ortografia. Um bom revisor ortográfico e gramatical pode ajudar a sua obra a manter uma boa pontuação.
O preparador de texto também é uma opção a se considerar. Trata-se de alguém com experiência literária, alguém que apontará problemas como a necessidade de trabalhar mais o personagem e aprofundar-se no tema, indicará se é o caso de o escritor ter um trato mais poético com a linguagem.
As oficinas literárias são extremamente interessantes e ajudam o escritor a compreender caminhos na linguagem literária que ele nunca escolheria, simplesmente por não saber da existência deles. Enfim, procure um profissional. Valorize o que você escreve.
O importante é participar
Pode parecer conversa pronta, mas é daquelas verdades que permanecem: quando se trata de concursos literários, o importante é você estar entre os selecionados.
Ser selecionado mostra que você tem algo a dizer, que a sua obra tem qualidade. A partir daí, o espaço é para critérios muito subjetivos. Considerando o exemplo já abordado aqui, o ProAc analisa a relevância cultural para a sociedade. O que é relevância cultural, afinal? No que consiste ser considerado relevante para a sociedade? Cada membro do júri encontrará uma particularidade ao qualificar obras nesta categoria. Pode ser o fato de o escritor tratar de um assunto filosófico muito profundo, como a questão da morte, o que pode ser considerado relevante socialmente. Consequentemente, o jurado dará a esta obra uma pontuação maior.
Outro membro do júri pode achar que importante é abordar a negritude, a questão de gênero, e assim esse escritor receberá uma pontuação maior neste quesito. Isso não significa que as obras selecionadas em primeiro, segundo ou terceiro lugar são inquestionavelmente as melhores. Não importa quantos são. Estar entre os selecionados é estar entre os melhores escritores do concurso. A partir dessa qualificação, entram os critérios mais subjetivos.
Nome ou pseudônimo?
Vários concursos literários exigem o anonimato na inscrição, que deve ser feita usando pseudônimo, o que pode ser interessante, já que abre caminho para um meio restrito. No cenário literário, é comum os escritores se conhecerem, levando à possibilidade de um membro da comissão julgadora ter de avaliar um inscrito conhecido, o que pode ser incômodo. Não que seja um problema alguém da comissão julgadora conhecer o escritor inscrito. É preciso partir do pressuposto de que há idoneidade dos envolvidos, que todos estão ali para julgar obras, independentemente dos seus autores.
Entre os concursos literários e as chamadas de originais
Os concursos são ótimas oportunidades, mas não anulam a opção de ir por outro caminho que não seja o dos concursos. O escritor pode não estar disposto a lidar com a demora na publicação ou com o processo de elaboração e execução de projeto. Assim, buscam por editoras que os ajudem a colocar seu livro no mercado.
As chamadas de originais ocorrem em vários momentos do ano. Elas consistem no recebimento de originais, que são analisados por uma comissão que escolhe quais serão publicados, o que, em certo aspecto, é um tipo de concurso literário.
Muitas editoras que operam por meio de chamadas de originais, entre elas a Urutual, a Ofícios Terrestres e a Patuá. A Telucazu recentemente abriu um edital para livros inéditos, com o propósito de ajudar escritores que ficaram sem renda durante muito tempo, por conta da pandemia. Enfim, vale a pena pesquisar quais são as editoras que estão com chamadas abertas e encaminhar o seu original.
Ser atuante gera oportunidade de publicação e reconhecimento
Tenha em mente que é fundamental para a formação do escritor participar de concursos literários. Ao ganhar um concurso, além da visibilidade que alcançará e do livro publicado, o escritor terá certeza sobre a qualidade da sua obra.
Pode ser que a sua obra não seja a melhor, que não fique com o primeiro lugar do concurso. No entanto, ela será uma das melhores e isso tem grande valor. Ela pode não ser a melhor obra, até por conta dos tais critérios subjetivos que já comentamos aqui: tema, linguagem, gosto da comissão julgadora. Certamente, se você foi premiado em um concurso literário, o seu texto foi um dos melhores dentre aqueles que participaram do concurso literário.
Resumindo: participe de concursos literários, porque vale a pena. Fuja dos concursos caça-níqueis, aqueles que exigem que você pague para que a sua obra seja editada. Desconfie deles e se informe sobre aqueles que oferecem prêmios e não pedem ao autor que banquem algum aspecto da publicação ou premiação.
E, claro, continue escrevendo.
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